quinta-feira, 18 de março de 2010

A RODA DA RE VOLTA - Por Bagé


A roda da Re Volta marcou mais um momento desta longa historia. Na preparação da roda muita alegria, encontros e desencontros. Todos trouxeram seus instrumentos. Uma roda é sempre preparada em nosso grupo. Uma preparação para a guerra, para o amor. No começo, antes mesmo dos organizadores chegarem, aquela tensão de sempre. Alunos e professores de outra modalidade chegando para ocupar o espaço. Não, mas o espaço é nosso, está agendado para o ano todo! Conversa daqui e dali, hoje é o dia da roda. Horário conferido atrás da porta, a capoeira fica. Do outro lado, promessas de lutar pelo espaço. Incrível, mesmo fazendo tudo “nos conformes”, a sensação de insegurança é nossa companheira permanente! Começam a chegar convidados. Ressurgem das cinzas Bolita, Toninho, Rodrigo, Tiago. De todos os cantos da Ilha nossos irmãos da capoeira começam aparecer. Danuza chega com instrumentos. Bagé coloca os banners e instala a filmadora com Renata. Polegar puxa uma brincadeira e descontrai os convidados. O ginásio começa a encher. Toninho faz viagem de Canoinhas com seus quatro alunos. Alemão chega com seu Berimbau e pergunta: hoje é dia de roda? Olha para o ginásio e comenta: puxa, faz muito tempo que não entro aqui. O sentimento é de alegria e reunião, muita emoção por estarmos todos juntos, por compartilhar este dia.

A roda começa e a ladainha lembra que “yêê fala menino, mostra o que o mestre ensinou. Mostra que arrancaram a planta, mas a semente brotou e se for bem cultivada, dará bom fruto e bela flor” O som de berimbau ocupa cada espaço, cada canto da nossa alma, a letra cava fundo em nossos corações. Na camiseta de Toninho a roda de rua, o mercado, o antigo “aprendendo” ao novo.

Cada golpe, esquiva, uma lembrança inscrita nos corpos. É a tradição incorporada, essa que nos faz por todos os lados. Na Bateria os alunos mais velhos revezam com os mais novos. Alemão comanda ritmo, a cantoria, narra historias que merecem ser lembradas. Acompanhamos o seu pensar com olhos atentos no que diz os corpos de nossos convidados.

Os minutos passam e o tempo não faz diferença, estamos inteiros ali. Um arame que arrebenta, outro berimbau que acorda. A música sai e entra, o jogo sobe e desce. Pai de Santo marca sua presença.

Esta roda termina, mas a vida não. Sobrevivemos a mais uma batalha. Sentimo-nos mais fortes. E nas palavras de Mestre Pinoquio, a idéia de que somos uma legião e apenas mais um, a idéia de que somos fortes quando respeitamos a diferença, quando sabemos contra quem lutar. “A capoeira é uma luta física e cultural” contra toda e qualquer corrente que um dia acorrentou o escravo africano e que hoje acorrenta nossos pensamentos.

É o universitário e o popular caminhando juntos, encontrando caminhos comuns contra a chibata e a discriminação. É o saber popular e o conhecimento científico mostrando que a convivência é possível, necessária, uma arma de superação, emancipação e libertação.

Para não esquecer das flores, elas estão e estarão sempre lá, no coração e na ponta do pé e da mão. Quando se pensa que desapareceram, elas voltam. Serão como ervas daninhas, nascem com uma persistência rebelde. É revolução e revolta, é revolta e revolução. São sonhos que não se mata fácil, pois são sonhos vividos!

Nossa homenagem a eles que um dia começaram tudo isso. Yê viva meu mestre!

Agradecimento especial à:
Mestre Pinóquio, Pai de Santo, Dudu, Caixa e demais alunos do Quilombola.
Vítor do Grupo Aú Capoeira.
Alemão, Jô, Danuza, Polegar, Bolita, Helmany, Bagé, Márcia, Toninho, Gaudério, Rodrigo, Maninho, Tiago, Eloi, Neto e demais alunos da Palmares;
De Moçambique Moçamba, Arestides;
Maria do Ilha de Palmares;
Janice, Russel, Renata, André, Andrea, Gisele, alunos novos do projeto;
Toninho e seus alunos da Palmares de Canoinhas;
Alunos do labomidia do CDS/UFSC.

Fábio Machado Pinto - Bagé

Um comentário:

  1. Sinto a emoção de vcs (capoeiras da Palmares e da região sul)cravada nas palavras representativas e significativas do grande Bagé... que nesse momento traduziu o sentimento de muitos que no passado acreditaram nessa arte/luta cultural e iniciaram algo fantástico que (na época nem faziam idéia) e que proporção tomaria. Percebi em vcs que algo faltava na história da capoeira de Floripa... e na inauguração do Centro Acadêmico do Mestre Nô entendi o que era... um espaço que precisava ser ocupado por aqueles que fizeram e participaram da história daquele lugar. Hj estou tb feliz com essa conquista. Parabéns e parabéns tb por registrar isso... o registro na educação é extremamente significativo, o blog é uma boa ferramenta p isso.
    CM Paulo (o Amarelinho da Bahia)

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